sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Flauta Jakui


 A flauta Jakui (ou Jacui) é um instrumento considerado sagrado por tribos como os Mehinakos e os Kamaiurás, no Xingu. Essas flautas ficam guardadas em um tipo de construção chamada de "Casa dos Homens", e as mulheres não podem sequer vê-las.


O terceiro tipo de construcão fica no centro da Aldeia e é conhecida como a casa dos homens, Kwaukuhe. A sua construção é uma solenidade, que exclui homens de outras tribos e as mulheres.

Nela é guardada a flauta do Jacuí, símbolo de poder e proibida aos olhos das mulheres. Se alguma delas olhar a flauta será obrigada a ter relação sexual com todos os homens da Aldeia, com exceção dos parentes de sangue.

Os Mehinaku contam que um dia, a flauta do Jacuí pertenceu às mulheres. Numa revolta os homens a retomaram . Por esse motivo, o trabalho pesado fica por conta delas.
(TV CULTURA)

 Há um mito para explicar o fato de as mulheres não poderem usar, e nem ver, a Flauta Jakui. Segue uma versão retirada do livro Sexo e desigualdade entre os Kamaiurá e os Cinta Larga, de Carmem Junqueira.

 
Muito antigamente
Se a mitologia incorpora alguma coisa da história vivida, por pouco que seja, então as mulheres Kamaiurá tiveram em algum ponto do passado momentos de glória.

As flautas Jakui eram antigamente das mulheres. Bonitas, enfeitadas, elas se reuniam no pátio da aldeia para tocar e lá ficavam horas a fio rendendo homenagem ao mamãe da Jakui e também se deliciando com os lindos sons que tiravam. Tocavam e dançavam alegrando todo mundo, menos aos homens, que morriam de ciúme e inveja. A cada sessão de flautas, mais inconformados ficavam de não ter acesso às Jakui. Decidiram então tirá-las das mulheres. Um dia, de surpresa, começaram a gritar muito alto para assustá-las. Mas não funcionou e elas sem qualquer sombra de medo prosseguiam na execução esmerada das músicas. Quase desanimados com a coragem feminina, eles planejaram um ataque que não poderia falhar. Com a ajuda de Kwat (o Sol) fizeram um grande zunidor e começaram a se aproximar do pátio. O amedrontador zunido foi num crescendo, as mulheres resistiram como puderam, mas, a certa altura, apavoradas, correram para casa deixando as flautas para trás. Felizes, os homens passaram a ser donos das invejáveis flautas sagradas e desde então só eles podem tocá-las. Vencidas, as mulheres tiveram de se conformar, relembrando com nostalgia que um dia tinham sido as donas. Foram ainda proibidas de ver e tocar as flautas, sob pena de castigo severo. Dizem que há muito tempo, na aldeia Waurá, uma mulher viu a flauta. Todos os homens tiveram relações sexuais com ela, que finalmente foi abandonada pelo marido! Outras versões do castigo são mais extremas: a mulher morreu porque “dificilmente resistiria a tantas relações num mesmo dia!”. Por precaução, elas agora fecham as duas portas da casa assim que ouvem os primeiros sons e, passivas, permanecem confinadas por muitas horas até que os homens decidam que já é tempo de parar (JUNQUEIRA, 2002. p. 41-42).



Homem Kamaiurá




REFERÊNCIA

JUNQUEIRA, Carmem. Sexo e desigualdade entre os Kamaiurá e os Cinta Larga. São Paulo: Olho d´Água, 2002.

Nenhum comentário:

Postar um comentário