quinta-feira, 24 de julho de 2014

Um pouco de Arqueologia: Os Geoglifos

Desde que foram descobertos, os geoglifos no Acre são motivo de vários questionamentos, tanto entre a população local quanto entre os pesquisadores.

Quem os teria feito e por quê?

Em um artigo¹ publicado pela UFPB são levantadas algumas questões importantes sobre esse achado arqueológico. O resumo do artigo é o seguinte:

Diferenças ecológicas entre os ambientes de várzea e terra firme (terra para agricultura, acesso aos recursos ribeirinhos e navegação) têm apoiado interpretações dos povos de terra firme como horticultores de coivara semi-sedentários, que nunca desenvolveram complexas instituições sociais ou cultura material elaborada. Esse artigo desafia essa posição, ao reportar a existência de centenas de estruturas de terra perfeitamente geométricas erigidas por populações pré-colombianas nos solos argilosos da Amazônia ocidental, no Estado do Acre e adjacências. Os geoglifos, como estão sendo chamados, indicam uma população expressiva, organizada regionalmente, vivendo por centenas de anos em um habitat que foi uma vez considerado como inadequado para sustentar complexidade social. Levantando algumas hipóteses sobre os construtores de geoglifos, os autores argumentam por uma revisão do modelo ecológico à luz das novas evidências.

O artigo ainda apresenta um resumo sobre a história da arqueologia no Acre, entre outras informações relevantes, e apresenta um histórico da descoberta dos geoglifos.


Geoglifos: pesquisas recentes

As estruturas de terra descobertas por Dias permaneceram desconhecidas dos arqueólogos brasileiros e do público até 1999, quando o Prof. Dr. Alceu Ranzi,um paleontólogo da Universidade Federal do Acre, que havia participado ainda como estudante das pesquisas do PRONAPABA, as viu da janela de um avião comercial, quando viajava de Porto Velho para Rio Branco. A partir de então, passou a buscar informações sobre tais estruturas, primeiramente com pilotos de aeronaves e depois com fazendeiros, proprietários das terras onde as estruturas se localizavam. Como um estudioso da paleoecologia da Amazônia, Ranzi estava interessado nas implicações daquele achado para nosso entendimento sobre as dinâmicas de expansão e retratação das florestas. Por sua dimensão e perfeita geometria, as estruturas deveriam ter sido feitas quando a região estava ocupada por savanas. Portanto, a floresta intocada do imaginário popular e científico deveria ser bem mais recente do que se supunha.

[...]

As poucas datações existentes, realizadas pelos arqueólogos do IAB, colocam os sítios entre 500 a.C. e 1000 d.C.Uma data de 1260 d.C foi obtida datando-se o carvão retirado de uma mureta cortada pela estrada de uma fazenda (Pärssinen et al.,2003).

Apesar da grande disparidade de datas, estima-se que a maior parte das estruturas date entre 800 e 1300, pois este é o período em que em outras partes da Amazônia começam a surgir sociedades demograficamente densas, aparecendo trabalhos coletivos bem organizados (ver Neves, 2003; Roosevelt, 1999; Schaan, 2004). Estes sítios lembram também as obras de terra encontradas nas terras baixas da vizinha Bolívia, onde extensos canais e áreas elevadas têm sido interpretados como campos agrícolas (Erickson, 1980).

É interessante observar que os geoglifos foram feitos em uma época em que não havia floresta na região, ou seja, se a data de 1260 d.C estiver correta, significa que a floresta Amazônica não existia nessa região até, no mínimo, essa data; sendo uma vegetação muito recente à chegada dos colonizadores europeus. Isso faz a mente viajar.

O artigo referido é muito interessante, ele pode ser lido na íntegra seguindo esse link: Periódicos UFPB

Abaixo um vídeo bem esclarecedor sobre os geoglifos.

"Das quatro universidades que estudam os geoglifos, três são de fora. Uma dos Estados Unidos, outra da Inglaterra e uma terceira da Finlândia".


"Nós brasileiros não estamos tão, entre aspas, interessados assim em saber como os nossos povos indígenas viviam aqui no passado. Então é um pouco frustrante, porque a gente não dá valor para o que é nosso".




Geoglifo - Acre

¹Autores do Artigo:
Denise Schaan; Martti Pärssinen;Alceu Ranzi; Jacó César Piccoli

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