O guitarrista e compositor Zândhio Aquino da banda brasiliense ARANDU
ARAKUAA concedeu ao site Metaleiro Patriota uma entrevista em nome da
banda falando sobre a relação com a cultura indígena, as idéias, o
futuro, e a cena do metal brasileiro.
MP:Como surgiu a ideia de escrever em tupi antigo? Envolver a cultura indígena incorporada na temática e na sonoridade? E tocar guitarra na base da viola caipira?
Zândhio:
A escolha da língua tem mais a ver com sua importância na formação da
nação brasileira, mas poderia ser outra língua indígena brasileira, a
temática e a musicalidade são mais importantes. A música indígena
brasileira e a música tradicional brasileira (baião, catira, frevo, moda
de viola...) vem de berço, só tive contato com o rock na adolescência
quando fui estudar em uma pequena cidade (seria entediante para os
leitores contar metade da minha história aqui rs) e quando tentei
arranhar algo não tive vergonha de ser o índio pálido caipira roqueiro
mão pesada, apesar do bullying ser pesado, fodam-se, nada é puro neste
mundo.
MP:Como funciona processo de composição?
Zândhio: Da maneira mais primitiva possível (idéia, caneta, papel, guitarra, viola...), depois levo pro ensaio e meus parceiros transformam isso em algo que vale a pena ser ouvido.
MP:Qual o envolvimento real da banda com os povos indígenas?
Zândhio:
De muito respeito por suas culturas e suas lutas. Eu e Nájila temos
conhecimento de nossa ascendência indígena, mas no Brasil é tudo
misturado, não há sangue puro na cidade (o que é ótimo) mais importante
do que ter sangue é honrar e respeitar nossa história. Alguns amigos
indígenas têm conhecimento da nossa música e todos eles nos dão bastante
apoio. Nasci e morei até os 24 anos ao lado da Terra Indígena Xerente
em Tocantins e sempre que retorno sou tratado como sendo parte da
família.
MP:Qual o real objetivo da
banda? Vocês acreditam que podem mudar a visão que o povo tem da nossa
própria cultura nativa? O que esperam dos fãs que ouvem o Arandu
Arakuaa?
Zândhio: A arte tem
essa função de despertar. E isso já está acontecendo, muitos garotos
que só conheciam o indiozinho do desenho do pica-pau depois de ouvi
nossa música buscam mais informações sobre os indígenas brasileiros e
depois dão retorno. Não somos uma banda de universitários bonitinhos
tocando MPB (nada contra), somos da periferia (povão) tocando metal onde
o normal é tocar que nem gringo e cantar em inglês. Estou reclamando?
Não. Pregar para convertidos não deve ter muita graça né. No fim do dia
só queremos ser criativos e passar algo de positivo para as pessoas e
contribuir na divulgação da cultura tradicional do nosso povo.
MP:Para os próximos trabalhos, quais os objetivos? Algo que pretendem mudar ou acrescentar?
Zândhio:
Deixar tudo mais evidente e na cara, mais tribal, mais regional, mais
pesado, mais melódico. Não pertencemos a um gênero musical específico,
não temos gravadora, só temos nossa música e as pessoas que acreditam
nela (vocês são fodas!!!). Não temos o que provar e maioria nem estariam
interessados nisso haha.
MP:Pra finalizar: Como enxergam a cena do metal no Brasil atualmente? Acham promissoras ou está na mesma de sempre?
Zândhio:
Em termos de qualidade técnica creio que a cena encontra-se em seu auge
e tem casos isolados de bandas tentando inovar (não vou citar nomes
porque nunca vi ninguém de banda citando Arandu Arakuaa em entrevistas
kkkk, zoando...). Do ponto de vista da composição (eu sou um velho
chato) honestamente acho que a maioria dos músicos poderia abrir mão de
20 minutos de treino de técnica e exibicionismo e usá-los pra melhorar
suas composições e pensar na música como um todo e não em seu
instrumento apenas.
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