T-atá îasy-pe (Fogo para a Lua) 04:02 – a
faixa de abertura do álbum é pesada e intensa, com uma introdução
tribal, muitos efeitos de guitarras e linhas de baixo
muito legais. Depois descamba para o peso de vez com uma pegada mais
thrash metal. A parte final desta música apresenta melodias que é bem a
cara da Arandu Arakuaa.
A letra versa basicamente sobre sair para admirar e saudar a lua
“E-îori e-îori îasy (vem vem lua)
Îa-îu nde o-mo-eté (viemos louvá-te)
Oro-î-mo-endy t-atá (vem acendemos o fogo)”
Esta música funciona muito bem ao vivo e o solo de guitarra é o meu preferido do álbum.
Aruanãs
(Espíritos da Água) 03:56 – tenho um carinho especial pro esta música,
pois a compus entre 2002 e 2003 e ela de alguma forma é referencia no
meu estilo de compor. Os riffs de guitarras
são bem pesados alternando com arranjos de viola caipira e a bateria
está matadora. Começa com vocais limpos emendando com os mais gritados e
os guturais logo aparecem. Nas partes com vocais guturais a voz grave
de Saulo complementa bem a voz agressiva e potente de Nájila, aliás,
utilizamos muito esse recurso no decorrer do disco.
Depois do solo de viola caipira a música termina com um hardcore quebradão de fazer qualquer fã de Ratos de Porão abrir a roda.
A
letra fala sobre o mito de origem dos índios Karajá que moravam no
fundo do rio. Interessados em conhecer terra firme, um jovem encontrou a
passagem e fascinado pelas praias e riquezas do Araguaia muitos Karajá
subiram também. Anualmente na festa de Aruanãs os espíritos de seus
ancestrais aquáticos sobem até a superfície para celebrar.
Kunhãmuku’~i
(Mocinha) 03:10 - está presente no nosso CD demo e aqui tem seu
potencial elevado com novos arranjos e ótima produção. Nos vocais
tribais da introdução, as maracás e o pau de chuva dão um toque muito
especial. Esta música é realmente pesada com os vocais limpos, guturais e
os gritos tribais dando o tom. É uma música bem Arandu Arakuaa e
tocá-lo é sempre muito intenso.
A letra faz referência ao rito de
puberdade das índias da etnia Tikuna que em sua primeira menstruação
escondem-se na mata e assim que encontradas por suas mães ficam
trancadas em suas casas por cerca de três meses para se protegerem de
espíritos maus e aprenderem sobre sua tradição. Passado esse período são
recebidas na aldeia com festa, chamada "Festa da Moça Nova", onde
homens vestidos com fantasias representando diversos espíritos da
floresta dançam e cantam por dias a fio. Ao fim da festa, as mulheres
mais velhas arrancam os cabelos das mais novas.
“Yby sy, o-poir ‘anga (mãe terra alimenta o espírito).
Yby sy o-mbo’e, yby sy o-mbo’esara (mãe terra ensina, mãe terra é mestra)”
A-kaí
T-atá (Queime-me no Fogo) 03:24 - começa bem calma com os violões e os
teclados seguidos pelas maracás. As linhas de vocais limpos são
realmente belas. Não demora e o peso chega com riffs mais quebrados e
Nájila mostrando sua influência de death metal berrando a pleno pulmões.
O refrão apresenta um riff hard rock muito legal. A música termina lá
encima com as influências hardcore comendo solta e Adriano espancando
seu kit sem piedade. Apesar das mudanças de andamento, as diferentes
partes se conectam bem e deixando a música grandiosa.
A letra tenta passar a visão de um prisioneiro de guerra sobre seus inimigos momentos antes de sua execução.
“A-moîar a-obaîara (encurralado, sou o inimigo)
Ixé a-sykyîé um~e, xe r-asy, xe r-asy-eté (eu não tenho medo, tenho dor, tenho muita dor)
Ixé a-sykyîé um~e, a-kaí t-atá, t-atá pupé (eu não tenho medo, queime-me no fogo, dentro do fogo)”
O-îeruré
(Rezem) 03:28 - os riffs da parte principal são pesados e rápidos,
vocais gritados e agressivos e a cozinha fuzilando. O refrão dela
apresenta “um riff van valen metal baião” como diz o Saulo. Nas
gravações o produtor Caio Duarte falou “hey cara vamos colocar um
arranjo de viola caipira no refrão” isso deu a ela um brilho especial.
Mais para o final tem uma passagem com vocais limpos e viola caipira e
logo os vocais sedem espaço para um solo de viola caipira com a cozinha
abusando das influências nordestinas.
A letra fala sobre luta e superação
“O-sasab t-atá o-káîo moxy (cruzem o fogo quebrem a maldição)
O-porará asy, ere-ru nde abaeté (suportem a dor, trazes tua bravura)
A’e-ré o- kuî, a’e-ré o-îeruré (depois disso caia, depois disso rezem)”
Tykyra
(gota) 01:55 - um pequeno instrumental acústico conduzido pela viola
caipira, a cozinha quebrando tudo com as influências nordestinas e as
maracás dando o tom das influências indígenas. É uma faixa que se
conecta bem com a proposta do disco e apesar de acústica não tem nada de
redondinha e fofinha. Música regional com pegada roqueira executada por
músicos de garagem.
Tupinambá 04:24 - outra presente no nosso CD
demo que aqui conta com uma excelente produção e novos arranjos
deixando-a mais pesada, sombria e tribal. É uma canção muito forte, que
funciona bem ao vivo e o refrão gruda na cabeça.
A letra é baseada no
livro “Viagem ao Brasil” no qual o aventureiro alemão Hans Staden narra
como foi sequestrado e quase morto em um ritual de canibalismo por
índios da etnia Tupinambá que viviam no litoral norte paulista em
janeiro de 1554.
Îakaré ‘y-pe (Rio dos Jacarés) 02:05 - não há guitarras, vocais rasgado/guturais ou pedal duplo. Violão, viola caipira, bateria, baixo
acústico, maracá, pau de chuva, vocais limpos e tribais dão a ela um
clima especial. É uma música simples com uma bela interpretação de
Nájila. Seu timbre suave dá um toque todo especial a esta música. No
refrão os gritos tribais com todo mundo cantando junto deixa o clima
caótico levando o ouvinte a se sentir em uma aldeia indígena em dia de
festa.
A letra abordada de forma divertida os perigos que as crianças
correm ao tomarem banho em rios e igarapés enfestados por jacarés.
Auê! (Salve!) 03:23 - Mais uma música presente no nosso CD demo que no álbum ganhou uma versão realmente matadora. Mescla muito bem o peso às influências nordestinas e indígenas. Conduzida pelos riffs de guitarra
e os arranjos de viola caipira. Os gritos tribais alternando com vocais
limpos e guturais deixa a coisa oscilando entre o belo e o caótico. O
refrão ganhou um tratamento todo especial com o instrumental mais
trabalhado deixando o vocal mais agressivo e pronto para voar.
A letra fala sobre dançar e cantar como forma de agradecimento à mãe natureza.
A
música termina com um solo de viola caipira do qual tenho muito
orgulho, com a cozinha e os violões fazendo um excelente trabalho.
Adriano sempre ouviu música brasileira, então ele tem a pegada certa
para essas levadas. E Saulo, bem ele é o melhor baixista que Adriano
poderia querer, os dois tocam juntos desde sempre e o entrosamento é
realmente fantástico.
A-î-kuab R-asy (Conheço a Dor) 03:48– começa
climática e sombria com andamento arrastado, mas logo chega o refrão
que é mais na veia metal clássico. Depois descamba para um riff de guitarra de levantar defunto da cova com a cozinha e os vocais mantendo tudo lá em cima e em seguida o solo de guitarra.
A
letra é basicamente um lamento do índio que tem que viver longe de sua
terra e seus costumes. Creio ser esta a letra que mais me orgulho de ter
escrito neste álbum.
“A-î-kuab r-asy a-î-kuab mba’e (conheço a dor conheço as coisas)
Xe abá-ere’oka, xe abá-ere’taba (sou o índio sem casa, sou o índio sem aldeia)
O-î- îuká yby sy, o-î-îuká xe ‘anga (mataram a mãe terra, mataram minha alma)”
Kaapora
(Caipora) 04:18 – é de certo a música mais pesada do álbum. Depois de
uma rápida introdução já cai de cara no refrão com tudo alto e rápido
como uma música que fala sobre o Kaapora tem que ser. Depois segue
alternando com momentos mais pausados e pesados. O solo de guitarra
serve como ponte para a parte final mais tribal com uma melodia simples
e marcante bem típica da Arandu Arakuaa, esta parte é uma das minhas
preferidas do disco.
A letra é caótica e divertida onde o conhecido protetor dos animais “Kaapora” pega pesado com os caçadores.
“Abá o-îuká o-moîar o-asem o-îabab (homens que matam encurralados gritam e fogem)
O-îabab o- mosykyîé, o-nhe-mim ka’a oby-pe (fogem assustados, escondem-se na mata verde)
Kaapora o-moîar (o caipora encurrala)”
Gûyrá
(Pássaro) 03:49 – música presente no vídeo clip. Caio Duarte fez um
grande trabalho na elaboração dos arranjos vocais no início da canção.
Os violões e os teclados dão o clima certo pra os vocais voarem. No
cântico tribal reverenciamos nossos ancestrais e isso tem uma grande
carga emocional. Na parte que a música deslancha Caio Duarte veio com a
excelente ideia de inserir os arranjos de viola caipira antes de cair de
vez no peso. Os vocais limpos e a viola seguindo o riff mais heavy
metal deixou a parte final mais poderosa e elegante.
Tudo gira em torno da letra que fala sobre liberdade, materializada na figura de um pássaro.
Moxy Pe~e Supé Anhangá (Maldição para Vós Espirito Maligno) 04:01 – gravada em nosso CD demo e na versão
do álbum mudamos bastante os arranjos e parte da estrutura. O
instrumental ficou mais pesado e elegante com a inserção de algumas
notas dissonantes na parte rápida e o solo de guitarra
mais melódico. A cozinha está feroz e o vocal extremamente agressivo.
Na parte que era o refrão incluímos um cântico tribal o qual gravei
bastante emocionado. Lembro-me de Caio Duarte comentando “uau cara, isso
ficou muito bom e verdadeiro!”. Depois a música segue para sua parte
final onde começa com vocais limpos e aos poucos vai cedendo espaço aos
guturais.
Lembro-me de ter criado este riff no berimbau e depois de criar as linhas vocais o transportei para a guitarra.
A
letra tenta passar a visão dos jesuítas coloniais e missionários atuais
que na tentativa de cristianizar os índios transformam seus deuses em
demônios cristãos.
Não poderíamos pensar em uma música melhor para encerrar este álbum.
Ficha Técnica:
- Nájila Cristina – Vocais
- Zândhio Aquino – Guitarra Viola Caipira, Vocais Tribais, Violão, Teclado, Maracá, Apito.
- Saulo Lucena – Baixo, Baixo Acústico, Vocais de Apoio.
- Adriano Ferreira – Bateria, Percussão, Maracá.
- Caio Duarte - Produção e Masterização
- Leandro Lestat - Arte de Capa
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